Capítulo 2 - O Julgamento do Ano
Um ano depois...
Yumi esfregava as mãos nervosamente enquanto aguardava o júri que já estava deliberando por mais de uma hora. Aquilo não era bom.
O Dr. Park Hong, promotor que se tornou um amigo de Yumi, virava-se de vez em quando para trás e dava um sorriso tranquilizante, mas Yumi não conseguia deixar de se preocupar.
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Dr. Park Hong |
Joon Ki estava sentado no lado da defensoria e também lhe lançava olhares furtivos. Ele sorria como se sua vida não estivesse em jogo. Era enervante.
O depoimento de Yumi não saíra como planejado. O advogado de Defesa praticamente destruiu Yumi quando perguntou sobre os medicamentos que ela tomava.
O psiquiatra então lhe prescreveu um antipsicótico além de outros psicotrópicos. O problema é que o antipsicótico podia causar como efeito colateral terríveis alucinações, paranoia, euforia e outros males.
Isso, é claro, não acontecia com Yumi, mas foi o suficiente para invalidar seu testemunho. Enquanto o advogado de defesa remexia em sua ferida mais dolorosa, o Sr Tae Joon Ki apenas sorria como se soubesse que aquela batalha estava ganha.
Também havia o fato de que o idoso Kim Elborn era conhecido por ser um dependente de drogas e devia seu peso em wones para várias bocas de traficantes na cidade, por isso, a defensoria sustentou a tese de que o assassinato dele poderia ser um acerto de contas que não tinha nada a ver com o Sr. Tae Joon Ki que estava em sua casa, com sua irmã, naquele mesmo horário, colocando em cheque o testemunho de Yumi.
Agora Yumi tinha medo de que as outras provas fossem circunstanciais. Se Tae Joon Ki fosse absolvido, Yumi teria que abandonar o programa de apoio à testemunha e não teria nenhum abrigo onde se esconder de Tae Joon Ki.
Sem dinheiro, sem família, sem nenhum amigo a quem recorrer, Yumi sabia que isso seria seu fim.
- Todos de pé para a entrada da Meritíssima Sra. Juiz Gong Na Ri e os membros do júri.
Primeiramente, Yumi achou que era uma boa ideia ter uma juíza mulher, assim ela poderia entendê-la e ser sensível com aquela situação.
Entretanto, sempre que a juíza chamava Tae Joon Ki, ficou claro que a juíza era 'só sorrisos' para ele, ofuscada pelo poder que ele exercia.
Yumi e todos os presentes ficaram de pé, imediatamente quando a juíza, menos o Sr. Joon Ki que ainda levou alguns segundos para colocar-se de prontidão.
- O Juri chegou a um veredicto? – perguntou a Juiza olhando para o representante do Juri, um homem jovem.
- Sim, Meritíssimo. O júri considera o acusado, Sr. Tae Joon Ki, INOCENTE de todas as acusações.
Yumi sentou-se para não cair, pois suas pernas tremiam e sua respiração estava irregular. Quando olhou para o Sr. Joon Ki que estava sendo envolto por uma série de pessoas para parabenizá-lo, percebeu que ele olhava diretamente para ela.
O julgamento havia sido um desastre. Ela não só deixou de condenar Tae Joo Ki, como havia mostrado o seu rosto para ele e lhe apontado o dedo publicamente.
Com medo daquele olhar, ela levantou-se imediatamente e esgueirou-se para fora da sala. Já ganhava o corredor para fora do Tribunal quando escutou a voz do Dr. Park Hong chamando por ela.
- Yumi, querida... – disse ele, com uma cara de preocupado, correndo para alcançá-la – Eu sinto muito pelo resultado desse julgamento. Eu me sinto culpado. Eu deveria ter te preparado pelo para o seu depoimento.
- O senhor não tem culpa. Eu fui a única culpada. Eu deveria ter dito que fazia isso dos remédios.
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Park Hong |
- Pegue esse dinheiro e fuja de Hadong-ri o mais rápido possível!
Yumi olhou para o maço de dinheiro na mão de Dr. Park Hong sem acreditar.
- Não posso aceitar seu dinheiro, Dr. Park – disse ela, afastando a mão do advogado. - O senhor fez muito por mim. Não quero mais essa conta nas minhas costas.
- Minha cara, ambos sabemos que você não tem dinheiro, nem ninguém que possa lhe ajudar. Não seja orgulhosa agora, você sabe o que pode lhe acontecer. Eu vou entrar com uma apelação, mas você sabe que essa situação não irá mudar. Se eu conseguir mais provas, poderemos ter um novo julgamento, mas é melhor ter cuidado até lá.
Sem jeito, Yumi tirou o maço de dinheiro da mão do advogado e enfiou- no bolso da calça.
- Assim que chegar, ligue pra mim e me avise onde vai ficar, tudo bem? Talvez eu ainda precise do seu depoimento. Agora, vá. Yumi, boa sorte, querida...
- Adeus, Dr. Park. – disse ela, virando-se em direção a saída.
Uma leva de repórteres veio na direção de Yumi na escadaria do Tribunal, mas ela conseguiu se afastar e assim que Joon Ki surgiu no alto da escada, os jornalistas não mais a perseguiram.
Yumi apressou o passo, afastando-se rapidamente do Tribunal. O julgamento havia atraído reporteres locais, regionais e internacionais.
Com toda aquela gente, Joon Ki não deveria ter visto aonde ela estava indo e a Rodoviária ficava há apenas cinco minutos dali. Logo estaria longe de Hadong-ri e da vida de Tae Joon Ki para sempre.
Não sabia quanto Dr. Park lhe dera, mas com certeza era o suficiente para começar sua vida em outro lugar. Alugar um flat por um mês ou dois até conseguir um novo emprego.
Sorriu pensando que poderia conseguir finalmente livrar-se daquele pesadelo, daquele julgamento que só a colocara em evidência e olhou adiante. Faltava apenas uma rua para chegar a Rodoviária.
Atravessou rapidamente, sem olhar direito para os dois lados. Quando percebeu, um carro avançava na sua direção. Tentou correr, mas era tarde demais.
O carro a acertou em cheio. Ela foi jogada por cima do capô com violência, foi arrastada por cima do veículo e depois caiu com estrondo ao chão. Sentiu alguma coisa se quebrar dentro dela e a dor que a invadiu foi tão intensa que pouco a pouco seus sentidos se dissiparam.
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